“A Grande Ironia” é talvez o melhor filme de Woody Allen em muitos anos.
Miscelânea / / September 29, 2023
E isso apesar do diretor já ter 87 anos.
No dia 28 de setembro aconteceu a estreia russa do filme “A Grande Ironia”.
Este é o 50º filme de Woody Allen. Há vários anos ele vem insinuando que está se preparando para encerrar sua carreira (e talvez sua vida - suas entrevistas há muito se tornaram deprimentes). Os filmes do diretor não são exibidos nos Estados Unidos devido a acusações de abuso sexual infantil, e sua idade avançada sugere que é tarde demais para lutar para reanimar sua carreira. Com isso, Allen decidiu se despedir do cinema em Paris, fazendo um filme em francês. E A Grande Ironia é muito melhor do que qualquer coisa que ele fez nos últimos anos.
Segundo a trama, Alain e Fanny, que não se viam há muitos anos, se encontram por acaso em Paris. Ele é escritor, ela é esposa de um homem rico e insatisfeito com a vida. Um relacionamento romântico se desenvolve rapidamente entre os personagens, durante o qual Fanny pensa cada vez mais sobre o quão errado ela viveu. Neste momento, seu marido começa a suspeitar que sua esposa o está traindo, e
contrata um detetivepara verificar seus palpites.Woody Allen típico
É impossível evitar a repetição fazendo 50 filmes. Porém, Woody Allen não tem medo de se repetir e, por isso, preenche seu novo roteiro com personagens e elementos já familiares.
Mais uma vez (não na 50ª, mas apenas na 20ª ou 30ª) vez, Woody Allen cria um herói intelectual resmungando sobre um mundo ilógico. É verdade que ele nunca é neurótico - aqui o diretor decide mudar pelo menos um pouco seus hábitos. Talvez seja o ar Paris tem um efeito benéfico depois da barulhenta Nova York.
Fanny, uma garota confusa que anseia por romance, também não é a heroína mais original. Ela é encantadora e às vezes até comovente.
Tendo criado dois personagens típicos de seus filmes, Woody Allen os faz ter conversas intermináveis – eles também são bastante familiares. Literatura, cinema, injustiça social, classe média – os personagens podem viver em Paris, mas dizem as mesmas coisas que em Nova Iorque. A única inovação é a admiração pela arquitetura da cidade.
Woody Allen mudou de local e de idioma, mas ainda assim sua nova foto lembra muito as antigas. Isso é tanto positivo quanto negativo - depende da atitude do espectador em relação filmografia do diretor.
Luta de classes
Desde o primeiro diálogo entre Alain e Fanny fica claro que o diretor brincará com o tema da estratificação social. Uma mansão luxuosa contrasta com um pequeno apartamento, refeições gourmet contrastam com comer comida em uma frigideira e bebidas alcoólicas caras de um bar caseiro contrastam com vinho barato.
Os mundos de Fanny (e de seu marido) e de Alen são completamente diferentes. Tentando destacar as diferenças (para ser justo, já são óbvias), o diretor se deixa levar e começa a entediar. A comparação entre ricos e pobres (embora Alain não seja pobre, apenas mais pobre que o marido de Fanny) lembra um cartaz de um activista comunista. Mesmo assim, o custo do vinho não torna uma pessoa boa ou má, mas Woody Allen está tentando com todas as suas forças provar o que faz: quanto mais barato, melhor. Como resultado, o diretor romantiza alguns e demoniza outros. Os meios-tons vão apenas para a heroína, que corre entre dois mundos.
A guerra de Allen com a burguesia (ou mesmo com a burguesia) sempre se assemelha à rebelião de um excelente aluno que desenha com raiva coisas desagradáveis nas margens, mas com um lápis. E agora chega à conclusão de que o modo de vida burguês leva à mentira; é melhor ser como o pobre intelectual Alain. Por que é melhor? Porque ele come na frigideira. E o marido de Fanny comendo em um restaurante, então é ruim.
Se compararmos a mensagem anti-burguesa dos filmes de Allen com a experiência de outros realizadores, por exemplo o incansável Fassbinder, então os filmes do americano revelam-se desdentados, demasiado moles. Piadas, lamentações, descontentamentos mesquinhos – e “A Grande Ironia” segue completamente o mesmo caminho.
Ótimo final
Qualquer reclamação sobre o filme desaparece no terceiro ato. Quanto mais perto A Grande Ironia chega do fim, melhor fica. Woody Allen transforma uma comédia romântica em um filme de ação, dinâmica e nervosismo aparecem de repente. As conversas intelectuais ficam em segundo plano; os sentimentos de alguns (ressentimento, sede de vingança) e o desejo de sobreviver de outros vêm em primeiro lugar.
E se os pensamentos passados dos heróis se resumiam aos seus poemas favoritos, então novas questões revelam-se mais prementes. Por exemplo, o que você deve fazer com sua esposa se estiver planejando matar o amante dela? Como se salvar se o marido de Fanny acabou sendo muito mais influente do que se pensava? Quando as camadas de cultura desaparecem dos personagens, eles começam a parecer muito mais vivos.
A última meia hora é um espetáculo de tirar o fôlego pelo qual você pode perdoar uma hora do habitual Woody Allen. Mas se o espectador ama o diretor, então o final as pinturas serão um presente.
O (provavelmente) último filme de Woody Allen mostrou que o diretor ainda é capaz de fazer um bom filme. Sim, com repetições, os mesmos personagens, diálogos quase idênticos, mas ainda assim divertidos. Mas quanto mais o diretor se afasta dos elementos habituais, melhor se torna o filme. Talvez “A Grande Ironia” seja o ponto ideal do diretor.
Ainda mais estreias🍿🎥🎬
- Foi lançada The Marvelous Story of Henry Sugar - a pequena obra-prima de Wes Anderson
- Vale a pena assistir Moon, drama coreano que lembra Perdido em Marte?
- "The Continental" - uma bela mas estranha prequela de "John Wick" com Mel Gibson
- O autor de "Rick e Morty" lançou "Crapopolis". Acabou sendo incrivelmente emocionante
- A última temporada de Sex Education foi ao ar. Agora não é tão divertido